A minha vida é um maremoto. É uma movimentação intensa, agitada e profunda. Essa movimentação costuma gerar, dia após dia, uma onda de sentimentos bons e ruins. Esses sentimentos surgem inesperadamente na minha cabeça e, com frequência, os sentimentos ruins tomam conta do terreno e contaminam aqueles que são, na sua essência, bons. Nos momentos em que isso acontece, eu me sinto profundamente triste, é claro.
Em uma entrevista para a TV Cultura, Clarice Lispector disse: "O adulto é triste e solitário". Tens razão, Clarice. Nos últimos anos, sinto que tenho me tornado uma pessoa mais triste e solitária. Eu tenho muita dificuldade de me relacionar com as pessoas e não consigo manter contato com elas. Confesso que gostaria muito, mas, como eu disse, minha vida é um maremoto. E, no fundo, acho que sempre tive esse problema. Isso me afeta? Claro. Me afeta muito! Se eu dissesse que não, estaria mentindo para mim mesmo.
Por outro lado, eu até que gosto de ficar sozinho, sabe? Especialmente para pensar sobre a vida, como estou fazendo agora. Tem um poema e título de um livro de Charles Bukowski que resume o que estou tentando dizer aqui: Você fica tão sozinho às vezes que até faz sentido. Acho que, com o passar do tempo, vamos nos acostumando a ficar sozinhos.
Alguns dias atrás andei ouvindo a canção Tidal Wave do Old Sea Brigade. Foi ela que inspirou-me a pensar que a minha vida é um maremoto, literalmente. Mas, deixe-me abrir um parênteses aqui para dizer o seguinte: umas das coisas mais incríveis do Spotify é, sem dúvida, a possibilidade de descobrir artistas e músicas que você nunca tinha ouvido antes. Obrigado algoritmo. Essa música não sai da minha cabeça. Agora, fechando o parênteses e voltando ao que eu estava dizendo antes, toda vez que me sinto triste e solitário, tento encontrar alguma coisa para me animar. Eu fico pensando: a minha vida não pode ser tão ruim assim... Então começo a me comparar com os outros, principalmente pelo Instagram e... ah, isso é uma merda! O que tem me ajudado a lidar um pouco com esse tipo de coisa é meditar, orar e escrever nos meus diários o que estou sentindo naquele exato momento. Também descobri, recentemente, que toda vez que ouvia Tom Waits lendo o poema The Laughing Heart de Charles Bukowski, eu me sentia super bem. Então, fica a dica.
Por fim, para dizer a verdade, eu comecei esse texto sem saber muito bem onde ele ia dar exatamente. Só fui escrevendo, entende? Eu meio que precisava colocar isso para fora de alguma forma. Mas, já que chegamos até aqui, acho que vale a pena compartilhar, por escrito, o poema de Bukowski, que citei acima, para que você, assim como eu, possa sentir o coração risonho por pelo menos alguns instantes ainda no dia de hoje. Aqui está:
“The Laughing Heart
your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.”
Ei, não deixe de ouvi-lo na voz de Tom Waits.